Segue aqui um artigo de uma revista espanhola sobre a Família Gobiidae. (eu traduzi para o português). O texto é longo mas tem algumas informações legais. Antes de que queria compartilhar esta reportagem, já aviso que exigem direitos autorais. Eu conversei com o diretor da revista e ele aceitou que eu publicasse.
Nanogobios, gobios para nanoaquários:
O reduzido tamanho de algumas espécies de "gobios" no mercado ornamental, faz com que estas espécies sejam ideais para aquários de pequeno volume, denominados nanoreef. Em geral, se considera nanoreef, instalações de volumes muito pequeno. Em geral varia de acordo com os animais que contém. No caso de aquarismo marinho, chama-se nanoreef aquários com volumes entre 40 e 140 litros de água. Volumes abaixo de 40 litros são denominados picoreef.
Nos ultimos anos, teve uma alta na quantidade de nanoaquários, e pelo jeito não foi apenas uma modinha, vieram para ficar. Com este fato, veio a idéia de escrever este artigo. A hora de povoar com peixes estas "pequenas caixas", sem dúvidas as opções são as espécies de pequeno porte. Uma delas, se não, a melhor opção, são os gobios (Família Gobiidae), que nos permite escolher diferentes espécies, com tamanhos de no máximo alguns centímetros. Para este artigo, foi estabelecido um limite máximo de 5 centímetros. Sendo todas compatíveis com invertebrados, sendo assim, adequadas para nanoreef.
As dimensões dos animais, depende de cada autor, para tal caso, acabou sendo usado as informações da fishbase.org dado o prestígio que tem
atualmente no setor de ictiologia. Dada a grande diversidade da familia Gobiidae, seria possível oferecer um elevado número de espécies que possuem devidas características anteriormente mencionadas. Será limitado apenas às espécies mais encontradas no mercado e mais conhecidas entre os aquaristas.
Começaremos falando dos gêneros, Eviota e Trimma, que praticamente só contém espécies que se ajustam ao comentado. Depois falaremos
de outros 3 gêneros, sendo: Stonogobiops, Gobiodon e Elacatinus, onde apenas algumas de suas espécies estão de acordo com o que foi dito
antes.
Antes de tudo, alguns comentários sobre seus pequenos tamanhos, que implicam em certas considerações. Necessita de uma atenção especial para evitar casos de depredação por parte dos outros integrantes do aquário, e incluso aspiração por bombas e filtros. Podem ser presas para muitas espécies de peixes e também de invertebrados como caranguejos, camarões e anêmonas. Seus companheiros de aquário precisam ser bem
pacíficos e tranquilos. Alguns são tão pequenos que a única maneira de poder observá-los em cativeiros, é em nanoaquários, pois em tanques maiores, passam despercebidos. Pelo diminuto tamanho, acontece de chegarem em importações venham identificados erroneamente ou misturados com outras espécies.
Gênero Eviota
Possuem 66 espécies descritas, todas de tamanhos pequenos. Trata-se de animais muito relacionados aos recifes coralinos. A identificação da espécie não é muito fácil, devendo procurar em algumas ocasiões critérios diferente dos comuns (numero e tipo de escamas, espinhas duras ou moles), como por exemplo padrões de cor, posição de papilas sensoriais do crânio ( Baensch & Debelius, 1998). Ainda assim, seguem fazendo muitas confusões taxonômicas na atualidade(Greenfield & Suzuki, 2012). E ainda assim, muitos confundem estas espécies com Cardinal ( Apogonidae), mas, com certa experiência é fácil sua diferenciação pela posição de olhos e o modo de nadar.
São peixes territoriais e tímidas, sendo recomendado mantê-los solitários ou em casal. Se mantidos com outros peixes, estes necessitam ser muito pacíficos. Não apresentam diferenças sexuais externas evidentes, sendo muito difícil diferenciar o sexo, as vezes unicamente pela papila genital. Não foi ainda registrado casos de reprodução em aquários. Iluminação intensa faz com que estes fiquem escondidos, necessitando regular de modo que não atrapalhe o desenvolvimento dos corais. Na natureza, capturam presas pequenas ( Micro-crustáceos, rotíferos,etc.), as em cativeiro acostumam a comer alimentos congelados e até rações. Artêmia viva é uma alimento ideal para o período de aclimatação e complementar a alimentação.
As 3 espécies mais conhecidas no comercio (Espanhol) procedem do Pacífico Ocidental, sendo elas:
Eviota fasciola (Karnella & Lancher, 1981), o gobio pigmeu de faixas, que mede no máximo 2,5cm;
Eviota nigriventris (Giltay, 1933), o gobio pigmeu de ventre escuro, de 3 cm de tamanho máximo; e por ultimo,
Eviota pellucida ( Larson, 1976) com tamanho máximo de 2,1cm. Ainda necessita dizer, que estudos recentes (Greenfield & Suzuki, 2012), esta ultima é frequentemente confundida com
Eviota prasites ( Jordan & Seale, 1906) e Eviota spilota (Lachner & Karnella, 1980).
Eviota nigriventris ( Foto da internet)
Eviota parasites
Eviota slipota
Gênero Trimma
Este gênero tem descrito 69 espécies na atualidade, e até o ano de 2004 não era comercializado como peixe ornamental (Wandell 2008). Desde então, o numero de espécies presente no mercado segue aumentando , ainda que com frequência são confundidos com
Prioleps, outro gênero de
Gobios (Baensch & Debelius, 1998). São peixes associados aos recifes de corais e requerem uma decoração que proporcione refúgios adequados, para "honrar" seus nomes populares ( Gobios pigmeus das cavernas), mesmo que algumas espécies encontram-se em águas abertas, mas próxima do refúgio ou substrato.Apesar de serem territorialistas, é possível manter estas espécies em grupos de vários casais em aquários, se o volume de água permitir.
No que se refere a iluminação e alimentos, é válido lembrar que possuem costumes como as espécies do gênero
Eviota. Não se sabe de informações sobre reprodução em cativeiro, e nem de diferenças sexuais externas. Os ovos são postos sob o teto de pequenas covas e cuidados
com os pais. Apenas na espécie
Trimma okinawae (Aoyagi, 1949) foi observado a troca de sexo em ambos sentidos, sendo esta troca não muito comum com os peixes. Sendo possível observar a reprodução quando um grupo de peixes convivem juntos.
Do Indo-Pacífico, se importam com frequência várias espécies, como por exemplo
Trimma macrophthalma (Tomiyama, 1936), o gobio
flamejante das cavernas , que alcança os 2,5 cm de comprimento. Três espécies desta região que se comercializam, constantemente são confundidas entre si (Myers, 1991), sendo estas:
Trimma okinawae (Aoyagi, 1949), o gobi das cavernas de Okinawa;
Trimma caesiura (Jordan & Seale, 1906), o gobio das cavernas de Caesiura;
Trimma naudei (Smith, 1957), o Gobio das cavernas de Naude. Esta ultima sem dúvida a mais comercializada das três. Na natureza não ficam longe de seus refúgios, e em cativeiro necessitam de substrato arenoso para que se possa se encontrar um esconderijo adequado. Do Indico Ocidental, se importa a espécie
Trimma haima (Winterbotton,1984), o gobio das cavernas de Chagos. É um peixe realmente pequeno, com tamanho máximo de 1,7cm, e uma das poucas em que pode notar uma diferença sexual, na coloração (Puigcerver y cols, 1996) notaram uma cor mais intensa nos machos. Outras espécies comercializadas possuem distribuição restringida ao Oceano Pacífico. É o caso do
Trimma cana (Winterbotton, 2004), o gobio cavernícola de açúcar, com um tamanho máximo de 2,5cm e indicado para tanques de 25 litros e tolerante com outros gobios inclusive de seu gênero, tem também o
Trimma rubromaculatum (Alen & Munday,1995) , o gobio das cavernas de manchas vermelhas, que pode chegar a 3,5cm e costuma permanecer na vertical ou inclinado na coluna de água, ou alguns centímetros acima do substrato.
O gobio das cavernas de Tavega ou de listras azuis (
Trimma tevegae , Cohen & Davis, 1969) também é originário do Pacífico ocidental e apresenta uma cor menos chamativa. Na natureza é visto com frequência em pequenos grupos refugiados em cavernas e covas ( Kuiter et al, 2001) e também em águas livres relativamente longe de suas tocas, em posição inclinada com a cabeça para cima (Baensch & Debelius, 1998).
Trimma okinawae
Trimma caesiura
Trimma tevegae
Gênero Gobiodon
Das 20 espécies consideradas válidas atualmente no gênero Gobiodon, denominados gobios palhaços de coral, algumas possuem tamanhos abaixo de 5cm. Sua distribuição é pelo Indo-Pacífico e seu habitat natural é os arrecifes coralinos, inclusive estabelecem uma relação muito estreita de comensalismo com os corais, especialmente com as
Acróporas sp. Vivem entre as ramificações e ficam nas zonas mais externas esperando por presas ( copépodos , foraminíferos, etc...) Em cativeiro não é necessário que vivam com
Acrópora sp., qualquer outro coral, com base calcária ou não, pode servir de abrigo. Não possuem escamas e sua pele apresenta um muco grosso e tóxico. Aparentemente todas as espécies deste gênero podem mudar de sexo em ambos os sentidos, como comentado no gênero anterior. Estes gobios desovam com
certa frequência em cativeiro, porém é extremamente difícil levar a desova adiante. Os sexos não se diferenciam externamente, mas, para obter um casal basta adquirir 2 exemplares, em princípio, um deles mudará de sexo. A fêmea libera os ovos em bandas circulares chegando a colocar até 1000 ovos ao redor do coral, e depois da fertilização, o macho protege imediatamente a desova. São peixes territoriais e tímidos, chegando a se entocar quando em ambientes com peixes muito ativos. A adaptação para que se alimente em cativeiro é crítica para que possa viver em aquário. Se passarem da fase de adaptação, são peixes muito resistentes, porém precisam iniciar com comida viva ( artemia) varias vezes ao dia,
em grande quantidade, e depois passar a alimentá-los com congelados (mysis, zooplancton, etc...) e com o tempo, chegarão a comer alimentos frescos e rações para peixes marinhos carnívoros ( em tamanho adequado). Importante que ao comprar estas espécies, não comprem as que tiverem o "ventre fundido", o que implicará em uma desnutrição. A importância de um profissional é nesta fase.
Entre as espécies comercializadas mais pequenas, estão
Gobiodon okinawae (Sawada, Arai & Abe, 1972), o gobio palhaço amarelo do
Pacífico Ocidental e
Gobiodon histrio (Valenciennes, 1837), o gobio de faixas gandes, procedente do Indo-Pacífico. Nenhuma destas
supera os 3,5cm de comprimento. Em cativeiro é comum o
G. histrio escolher corais da espécie
Catalaphyllia jardinei ao invés da
Acrópora sp. , porém isto não ocorre na natureza (Schultz, 2002). Na ultima década,foi comercializado diferentes variedades de cores da espécie
G. histrio, incluindo a denominada "
eritrospilus", é evidente que em algumas ocasiões pode ser tratado de espécies distintas. Outras espécies um pouco maior, mas sem superar os 5cm, são importados do Pacífico, como:
Gobiodon rivulatus (Rüppel, 1830)m outro gobio palhaço amarelo,
Gobiodon quinquestrigatus (Valenciennes, 1837), o gobio de cinco faixas, e
Gobiodon acicularis (Harold & Whinterbottom,1995), o Gobio palhaço Negro, que a diferença das demais espécies do gênero é que prefere corais das famílias
Pocilloporidae, principalmente
Stylophora pistillata.
Gobiodon okinawae
Gobiodon histrio
Gobiodon quinquestrigatus
Gobiodon acicularis
Gênero Elacantinus
Gobiossoma
Elacantinus foi considerado um gênero independente ou subgênero de Gobiossoma nos ultimos anos segundo o especialista consultado, e certas espécies foram trocadas de um gênero a outro. Atualmente só ficaram no gênero Gobiossoma 16 espécies sem interesse ornamental,os que são do gênero Elacantinus são os que tem relevância no aquarismo, porém será encontrado um nome ou outro dependendo de onde pesquisar. Em qualquer caso, se comercializam com frequência várias espécies conhecidas como gobios limpadores ou gobios neon. Se aclimatam bem ao aquário e várias vezes reproduzem em cativeiro. Algumas são "desparasitadores" obrigatórios na natureza, que
se alimentam de ectoparasitas que retiram da pele de outros peixes, mas em aquários todos aceitam alimentos de outros tipos, e se alimentam de pequenos invertebrados pelas rochas e substrato. Como inconveniente, estas espécies vivem pouco 1 ou 2 anos em média. Apesar de ser peixes territoriais, é possível manter várias espécies ou mais de um exemplar da mesma espécie no mesmo aquário caso este tenha volume suficiente ( Schultz, 2002), porém inviável em nanoaquários.
A espécie mais comercializada é a Elacatinus oceanops ( Jordan, 1904), o gobio neon, de tamanho máximo de 5 cm, porém pode adquirir outras como o gobio limpador de nariz de tubarão ( E. evelynae), o de Genei ( E. genei), o de nariz amarelo ( E. randalli), gobio limpador de corais ( E. illecebrosus), o de faixas largas ( E. prochilos), e o de pontos luminósos ( E. louisae), todas procedentes do Atlântico Ocidental foram descritas por ( Böhlke & Robins, 1968), com tamanhos de 3,8 a 4,6 cm, e de padrão corporal idêntico, e a maioria com coloração muito similar, baseada no ventre cor de creme e o dorso negro, com uma franja geralmente azul ou amarela. Para sua diferenciação é útil observar o formato da cabeça. Três espécies com padrão de cor aos já comentados são: Elacatinus punticulatus ( Ginsburg, 1938), o gobio de cabeça vermelha, Elacatinus multifasciatus (
Steindachner, 1876) o gobio de faixas verdes, e o Elacatinus macrodon ( Beebe & Tee-Van, 1928) procede do pacífico e as outras do Atlântico. Estas três possuem tamanho próximos a 5 cm. Ao menos seis destas espécies ( E. oceanops, E. evelynae, E. multifasciatus, E. puncticulatus, E. figaro, e E. macrodon) são comercializados com espécies reproduzidos em cativeiros de modo industrial, pode visualizar em um dos mais especializados em reprodução de animais marinhos, ORA. Inclusive chegou a começar a produzir um hibrido de E. oceanops x E. randalli). As desovas são comuns, até em aquários. O único obstáculo para completar a criação é a alimentação dos alevinos. Em algumas espécies é necessário uma combinação de rotíferos e artêmias recém eclodidas e alimentos líquidos. A fêmea pode colocar entre 200 e 800 ovos, que, dependendo da temperatura da água, da qualidade e espécies, demoram até 5 dias para nascer. O acasalamento consiste em paradas e movimentos exagerados por parte do macho, que fica notável seu escurecimento, para atrair a fêmea. Ela deposita as ovas que ficam sob cuidados do macho, dentro de uma toca. Normalmente se usam tubos de PVC inclinados. A unica diferença sexual notável nestes gobios é a papila genital, mas devido ao seu tamanho, é uma tarefa difícil. É recomendado para formar um casal, é comprar um grupo e esperar a formação destes.
Elacatinus macrodon
Elacatinus oceanops
Elacatinus puncticulatus
Gênero Stonogobiops
Ao menos uma espécie deste gênero cumpre as condições que foi colocada no inicio deste artigo. Mesmo com seu tamanho no limite ( 4,69 cm). Trata-se do Stonogobiops yasha ( Yoshino & Shimada, 2001) , o gobio camarão de faixas brancas. É possível mantê-lo em aquários de até 25 litros, se desenvolvem na região próxima ao substrato, que deve ser arenoso ou com restos de corais, com granulometria que permita eles escavarem. É possível estabelecer em aquário a relação simbiótica com o camarão pistoleiro ( Alpheus randalli). O peixe permanece alerta e avisa os perigos para o camarão que cava um esconderijo para ambos. Este gobio delimita seu território, mas pode ser tolerante com outros exemplares da mesma espécie, e sem dúvidas, o camarão poder ser motivo de grandes disputas. Também é possível formar um casal partindo de um grupo. Segundo Puigcerver y cols ( 1996), a fêmea é maior que o macho. É um peixe muito tranquilo e tímido, que requer companheiros de comportamento similar e que se adapte ao aquário. Aceita alimentos secos, congelados e vivos, que passe próximo à sua toca. É recomendado alimentá-los duas vezes ao dia, e ter tampa no aquário pois podem facilmente pular.
Stonogobiops yasha
Espero que tenham gostado.
Todas as fotos foram retiradas da internet.
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Ano I, Número 3, Novembro-Dezembro 2012
Texto original de : Àngel Garvía
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